Há pouco mais de dez dias comecei a observar vários links circulando na internet sobre a, mais que badalada, A Teoria da Pixar, do jornalista Jon Negroni. Em sua teoria o jornalista afirma que cada filme está conectado e que eventos centrais em cada trama influenciam cada um dos filmes.
Se você quiser saber mais sobre A Teoria da Pixar, em português, clique aqui.
Sinceramente, não ia me pronunciar sobre a teoria de Jon Negroni, mas recebi e-mails de leitores do blog comentando e alguns amigos também me encaminharam links e me perguntaram o que eu achava sobre isso.
Bem, vamos lá...
Sou de uma geração que cresceu assistindo filmes, seriados, desenhos e novelas na TV. E, todos os que me conhecem sabem que eu realmente gosto de assistir a (quase) todo tipo de coisa. Gosto de dar chance aos programas que estreiam, faço análises pessoais intrincadas, presto atenção aos cenários, locações, tudo... Só por diversão.
Quem me conhece também sabe que adoro ficar unindo universos e tramas televisivas por qualquer motivo: mesmos atores, mesmos autores, misturando atores com personagens ou apenas por serem exibidos no mesmo canal. Sabem que há anos comento que alguns personagens de novela deveriam transitar entre as produções. Unir, em alguns aspectos, as tramas das novelas seria um sucesso de audiência, na minha opinião. Mesmo sabendo o quão complicado seria executar tal tarefa.
Mas por que motivo penso dessa maneira? De certa forma fui criado assim. Lembro dos desenhos da Hanna-Barbera onde Batman e Robin participaram das aventuras do Scooby Doo e em Zé Colméia Show: A Corrida do Espaço, o urso contracenava com Tutubarão e o Don Pixote.
Qual o motivo de eu falar tudo isso? Simples. Acho que a Teoria da Pixar, do jornalista Jon Negroni é um excelente exercício de criatividade, só isso. Utilizando de referências, easter eggs e algumas outras invencionices Negroni criou um amálgama e reuniu todas as produções da Pixar, em uma única e intrincada, trama. Veja que não utilizo a palavra universo pois sempre foi claro, pelo menos para mim, que por serem produzidos pelo mesmo estúdio e equipe criativa as produções da Pixar pertencem ao mesmo universo.
Aliás acredito que a Pixar sempre deixou isso muito claro nos seus filmes. São diversos os easter eggs e referências cruzadas em suas produções. Alguns exemplos:
• No primeiro Toy Story, a marca do posto de gasolina é a mesma do principal patrocinador da equipe almejada por todos em Carros: Dinoco.
• No início de Toy Story 2, enquanto Buzz e outros brinquedos partem em resgate ao Woody, Flik e Chucrute (Vida de Inseto) podem ser vistos em um galho do arbusto no jardim.
• As pilhas do Buzz Lightyear em Toy Story 3 são da mesma marca do conglomerado de vendas, Buy n’Large, presente em Wall-e.
E por aí vai... são inúmeras as referências cruzadas e easter eggs presentes nos filmes da Pixar Animation Studios, que ajudam a construir e embasar esse universo, como no caso mais famoso – a caminhonete do Pizza Planet.
Mas vou comentar aqui dois fatos que julgo muito importantes na construção desse universo e que, creio eu, muitos não levaram em consideração ao "analisar" a teoria de Jon Negroni.
A Pixar é um estúdio de animação que produz filmes utilizando ferramentas de computação gráfica em 3 dimensões. Dessa maneira tudo, TUDO mesmo, que está nas telas teve que ser “construído” para aparecer em cena.
Cada folha de árvore, cada rótulo, cada pedrinha não está ali por acaso e todo o objeto de cena por menor que seja ou por menos tempo que apareça, necessitou da dedicação de um funcionário que passou algumas horas o elaborando. E essas horas significam (muito) dinheiro em uma produção que pode ter centenas de milhares de “props” em cena. Talvez, não por outro motivo a caminhonete do Pizza Planet (originalmente apresentada em Toy Story) também esteja presente em Vida de Inseto: economia.
Outro fato muito importante na “repetição” desses elementos e principalmente das marcas é o registro de nome. Já trabalhei em produção de arte para a televisão e sei bem da dor de cabeça que é produzir um rótulo de cerveja ou um simples adesivo para a porta de um táxi cooperativado.
Todos os nomes utilizados em um filme são previamente aprovados, ou não, pelo departamento jurídico que faz pesquisas evitando que a produção se utilize de um nome/marca que já exista. E, dependendo da importância do nome/marca na história, essas marcas fictícias são devidamente registradas pelo jurídico da produção para que não sejam registradas posteriormente por outras pessoas/empresas. E isso tudo, também é gasto/economia.
Por tudo isso, a Buy N’Large, o Pizza Planet e a Dinoco (e tantas outras marcas que muitas vezes não nos damos conta) aparecem repetidamente nas produções da Pixar.
É claro que hoje o caso da caminhonete do Pizza Planet (assim como a Pixar Ball), já se tornou clássico no estúdio e os fãs da Pixar aguardam cada nova produção para descobrir onde aparecerão. Mas suas repetidas aparições iniciais, eram por motivos financeiros.
A questão estética (além das questões de roteiro e econômico/jurídicas já citadas) também é outro fator que ajuda a construção e a unidade desse universo Pixar.
Existe uma unidade estética grande nas produções do estúdio que são normalmente reconhecidas pelo grande público, principalmente no que se refere ao visual dos personagens. Apesar de cada produção ter características únicas na concepção e no design de personagens, quando dispostos lado à lado os personagens “convivem” em harmonia estética e talvez as peculiaridades e diferenças de cada produção só possam ser mais facilmente notadas no design dos cenários e objetos de cena.
Isso fica mais claro ao analisarmos a estética cartunizada e estilizada dos veículos e dos cenários em UP – Altas Aventuras. Não que seus personagens não possuam características cartunizadas, mas nos demais elementos isso fica evidente.
Acho que já escrevi muito sobre minha interpretação da Teoria da Pixar. Aqui, meu objetivo não é demonizar e nem menosprezar as palavras de Jon Negroni. Ao contrário. Acho realmente que ele fez um incrível trabalho criativo ao unir os 14 longas-metragens da Pixar, encaixando um monte de peças e inventando uma justificativa que sustentasse sua ideia. Ele fez uma verdadeira brincadeira de gente grande, um senhor exercício!
E, outra coisa! Além de escrever sua teoria, Jon Negroni publicou-a na internet e conseguiu mobilizar jornalistas, blogueiros e muita gente no mundo inteiro. Colocou todo mundo para compartilhar e discutir sua ideia. Conseguiu escrever seu nome ao lado de uma das mais importantes marcas do mundo, a Pixar Animation Studios.
Luis Saguar
Para saber mais sobre Jon Negroni, acesse os links abaixo.
WebSite
Teoria Pixar
Linha do Tempo da Teoria Pixar
Fica claro o quanto é importante o processo de gerenciamento de produção de conteúdo. Nao é inteligente nem financeiramente viavél produzir tudo do zero. A sacada genial é a coisa de criar um Universo. Um tipo de code criative para dialogar com o público. Adorei o post irmão.estamos juntos e com novidades a vista.
ResponderExcluiracho que seria interessante a pixar se aproveitar desta teoria e colocar mais elementos em suas próximas animações. existem muitas outras teorias sobre outros filmes, séries e personagens, ia os produtores dos mesmo fazem brincadeirs e pegadinhas com esses mitos nas próximas produções. Se a pixar fizer o mesmo vai ser bem legal.
ResponderExcluir